Difícil um diretor europeu passar incólume por Los Angeles. Nem o velho e bom Werner Herzog conseguiu. Em sua primeira incursão ficcional hollywodiana apoiada num elenco de estrelas, o diretor de clássicos como Nosferatu (1999) e FItzcarraldo (1982) acabou por fazer um bom filme… americano.
Vicio Frenético(2009) é, diga-se, uma refilmagem do homônimo The Bad Lieutenant (1992) de Abel Ferrara.
A primeira versão tem Harvey Keitel no papel do tenente viciado e sua busca desenfreada por drogas, na proporção em que sua vida vai se dismilinguindo.
Herzog trocou Nova York por Nova Orleans, e Harvey Keitel por Nicholas Cage. Mais do que isso, Herzog trocou Klaus Kinski por Nicholas Cage. Ambos – os três-, são canastrões como se deve ser no cinema.
Kinski é um esquadro do canastrão alemão e Cage, do americano da Costa Oeste. E ele vai bem no papel de umrecém promovido tenente, que após um acidente durante as inundações do furacão Katrina, ganha uma medalha de herói e as costas viciadas em analgésico.
O irônico – e o brilho do filme – está nas referências diretas e indiretas boiando ao redor da trama.
Dos gangsters, cujos corpos e trejeitos já foram recontados inúmeras vezes em película, aos delírios do tenente, lembrando o próprio Cage nas vestes de Sailor Ripley, o protagonista de Coração Selvagem (1990) de David Linch, à iconografia particular dessa região pantanosa da Lousianna, seus sobrenomes e casarões franceses, jacarés atropelados e iguanas alucinantes, tudo remete a um tipo particular de cinema da América profunda onde, de perto, ninguém é normal.
Em tempo: Wim Wenders também deu seus escorregões pelos morros da cidade dos sonhos. O melhor deles talvez seja O Fim da Violência (1997), com Bill Pullmann. Ao contrário de Paris, Texas (1984), que tem a filha de Klaus Kinski, Natassja no elenco, Wenders rompe com o distancimento deslumbrado com as paisagens e vazios da alma americana e é absorvido pelos dilemas da cultura da violência, e dos filmes americanos, é claro.