Acompanhar a plataforma CrunchBase oferece uma boa ideia do quanto o Brasil está atrasado em seu ecosistema de investimentos privados em empresas emergentes e startups.
Nos EUA, em especial no Vale do Sílicio (mas não só lá), uma máquina opera em fluxo constante, retroalimentando a indústria com novos investimentos à medida que os lucros vão sendo realizados, até o esperado momento do IPO. Esse é um roteiro bem conhecido para quem está envolvido no setor, ainda incipiente no mercado brasileiro.
Por outro lado, grande parte das vezes, a saída dos investidores se dá pela via da aquisição institucional, que pode acontecer antes mesmo do negócio atingir um grau de maturidade.
Enquanto esse comentário se escreve, o CruchBase aponta uma razão de 10 para 1 no volume de recursos que fluem para aquisições, em relação aos aportes de funding para empresas.
Nesses casos, o negócio inovador é absorvido por uma empresa já estabelecida, interessada na ampliação de portifólio; numa inovação incremental para sua linha de produtos; ou em interromper uma potencial ameaça antes que ela se confirme.
Claro, nos EUA, Europa, Japão e, mais recentemente, na China, esse processo é parte de um ambiente em que empresas de diversos portes dispõem de Centros de Inovação e P&D, focados na melhoria de seus produtos e serviços, e onde startups formadas a partir de conteúdos tecnológicos relevantes, emersos de laboratórios de grandes universidades, compõem-se efetivamente em cadeias de inovação.
No caso brasileiro, são minoria as empresas que efetivamente possuem centros de inovação ativos ou invistam com vigor em P&D. Entre as pequenas e médias empresas, é um indicador inferior à metade.
Ainda que bem sucedido atendendo ao mercado nacional, pouco exigente em qualidade e inovação, o perfil do empresariado de médio porte não se vê incentivado a inovar, ora pelo alto custo da mão de obra com alta especialização, ora pelo tamanho do mercado interno, capaz de dar vazão à sua produção, qual seja ela.
Ante a ameaças de produtos mais sofisticados, o caminho mais óbvio acaba sendo incorporação de linhas de produtos importados, fenômeno que fatalmente provoca a desindustrialização do país, ao qual temos nos habituado perigosamente.
Esse é um grande entrave para o país. Ou podemos ver um copo meio cheio.
Os operadores de Venture Capital percebem no Brasil, um bom mercado formado por médias companhias com histórico de faturamento na faixa das dezenas de milhões de reais por ano, potencial de expansão, mesmo considerando que poucas dessas empresas são inovadoras de classe mundial.
São bons negócios porque atuam em mercados estabelecidos, tem marcas e canais de distribuição reconhecidos e não dispõem de necessário capital para crescimento. Sem falar nas oportunidades dos distressed assets ou de companhias familiares em processo sucessório.
Nesse sentido, há uma oportunidade para criação de um modelo de adensamento de cadeias de investimentos, sob forma de política pública de inovação, a ser irrigada pelos recursos de fomento, hoje tão disponíveis quanto dispersos – cujo a meta seria consolidar a absorção de micro e pequenos negócios inovadores por médias empresas tradicionais, alavancando o mercado como um todo.
Reforça esse argumento, o fato que IPOs ainda não estão no horizonte para pequenas e médias companhias, que não tem hoje acesso efetivo à capitalização em bolsa de valores.
Um componente inovador originado nas micro e pequenas inovadoras e incorporado por média-empresas, tornaria esses ativos muito atraentes aos investidores, já alcançando o nível do Private Equity.
Essa ação indicaria um caminho virtuoso para o desenvolvimento do sistema de inovação empresarial no Brasil, rumo à uma escala global, para o qual os atores desse mercado deveriam mais estar atentos.