Sapatada

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A sapatada do jornalista iraquiano em W. Bush foi um dos grandes momentos do ano. Quem não adoraria jogar alguma coisa na cabeça do presidente norteamericano é ruim da cabeça ou doente do pé. Diga-se, vale para qualquer presidente. A diferença é o sujeito ter os culhões para as vias de fato.

Agora, digna de nota mesmo, é a classe da escolha do sapato como objeto voador.

Ficamos sabendo, então, não haver humilhação maior do que um sapato voando na sua direção. Diz-se, entre a sola e o chão, só fica sujeira. Uma pérola cultural, essa sapatada.

Mesmo com o esforço da média midia internacional em desmoralizar o mundo islâmico, a riqueza cultural desses povos consegue vazar pelas entrelinhas das notícias. Turcos, sauditas, afegãos, iraquianos a até paquistaneses recebem a incorreta e generalizadora alcunha de “árabes”, como se Buenos Aires fosse a capital do Turcomenistão. Associando imediatamente a palavra “árabe” ao radicalismo e, por extensão, ao terrorismo, os ignorantes desaproveitam as nuances de uma cultura vastíssima espalhada por essa rincão do mundo, berço de civilizações complexas e inspiradoras nas artes, na culinária, também na cultura, na política e, pasmem os néscios, no bom humor e hospitalidade.

Dia desses vi, e recomendo, o brilhante “Neste Mundo”,  de Michael Winterbottom. Sem perder tempo com bobagens politicamente corretas, o filme narra a saga de dois afegãos rumo a Londres e rasga a região de ônibus, caminhão, jipe, lomba de jegue, enfim, do Paquistão à Turquia, mostrando a diversidade cultural envolta em paisagens secas e deslumbrantes desses e daqueles “árabes”.