Não faz muito tempo Fidel Castro discursava para uma multidão na Avenida Malecón. Falou, como sempre, horas a fio. O tradicional dedo em riste cutucando os imperialistas já cedia lugar a um gesto repetitivo. Raspava o polegar opositor na gola de seu uniforme verde-oliva. É um gesto idoso. Quando o tato vai se perdendo, sentir o tecido da roupa é um exercício de memória. De longe parecia um tergal. Meio brilhoso, meio engomado. Como um terno da Ducal, era o comandante chegando ao fim.
Fidel saiu do poder para entrar para a história. Fora do comando ele é história. Os jornais falam dele como um morto, como lembrou um cronista, quando ele morrer não vai haver notícia. Sua renúncia foi obviamente um ato político consciente, sofisticado até. Doente, planejou uma transição lenta e gradual. Escreve no Granma textos de uma lucidez impressionante.
Bem informado e interessado sobre as coisas da vida e do mundo, deve passar seus dias na internet. Os outros cubanos não. Talvez dadas as contradições da revolução. Se não existissem, estaríamos nas cavernas. O ímpeto revolucionário de Fidel é um patrimônio da humanidade. Fidel é demasiadamente revolucionário, demasiadamente contraditório, demasiadamente humano. Demasiadamente Fidel até o seu último dia.
O polegar opositor diferencia homens e macacos dos outros mamíferos. O uniforme verde oliva diferencia os homens dos macacos. O tato e o tecido, diferencia os homens.