Masoquismo político

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Dado o atual estado de loucura coletiva despertado, em grande parte, pelas portas escancaradas das redes (anti)sociais, uma certa tendência de masoquismo político tem me acometido.

Na eleição dos EUA no ano passado (2016), se manifestou com um incômodo silêncio sorridente diante da vitória de Trump. Não que sua adversária merecesse elogios mais convincentes do que o lacônico “batalhadora” oferecido pelo próprio candidato republicano no último debate. Mas a irracionalidade contida na ideia de ver o circo pegar fogo, por algum momento, não me pareceu tão repelente.

Julien Assange e Slavoj Sisek expressaram, por outras razões, esse desejo de “chutar o pau da barraca”, embora sejam duas figuras mais adequadas para tomar uma cerveja num boteco, que para dividir posições políticas.

Mais recentemente, na política nacional, o masoquismo tem insinuado na forma de uma possível e improvável recondução de Lula à presidência. Como o personagem Confuso, do desenho “Carangas e Motocas” (Wheelie and the Chopper Bunch – NBC/1974) da década de 80, infantilmente imagino-me dizendo “eu te disse, eu te disse”, vendo Lula levar no bico sua seita.

Num de seus intermináveis palanques de campanha antecipada, Lula disse que faria um “plebiscito revogatório” das reformas do governo Temer. A claque toda se animou. Do tiestismo do Facebook a artigos renomados, configurou-se toda uma tese sobre as virtudes estadistas do timoneiro.

Lula, se eleito, ironicamente, irá agradecer todos os dias pelo trabalho sujo feito por Temer. Claro, fará isso sozinho, na sauna. De fato, é o príncipe às avessas. Vai se aproveitar de todo o assim dito “mal feito” de seu antecessor, sem ter arriscar com medidas impopulares.

O caso mais curioso será a reforma da previdência. Mesmo se aprovada à meia pataca em 2018, Lula só não terá que defender uma nova reforma se a economia crescer em regime de exuberância irracional.

Lula vai ter que levar seus fãs no bico, mais uma vez. Novamente ao lado de Renan Calheiros, Collor, Sarney e que tais.