A Barca, Ivete e a Osesp

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Alan Lomax, com o suporte financeiro da Biblioteca do Congresso do EUA, rodou os Estados Unidos registrando as raízes do blues e da música negra norte-americana. O Brasil também tem lá seus Lomax circulando por aí. A Barca é um dos mais interessantes projetos culturais apoiados pela Petrobrás. Inspirados na viagem de Mario de Andrade, um grupo de músicos refez o trajeto do Turista Aprendiz, registrando a memória viva do cancioneiro popular do Norte/Nordeste. Além dos registros originais, com recursos técnicos de primeira, de congadas, carimbós e bois-bumbá e demais manifestações da região, o conjunto recriou muitas dessas peças produzindo uma obra de rara criatividade e inteligência musical. Quem foi ao Auditório Ibirapuera num desses fins de semana de março ouviu um trabalho ainda mais consistente que o apresentado em 2006 no SESC Pompéia, seja pela maturidade cada vez maior do conjunto, seja pelo Auditório Ibirapuera, com sua acústica e visão perfeitas, levou o público para a viagem da Barca.
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A televisão tem dado ampla cobertura do lançamento do DVD de Ivete Sangalo. Difícil não se impressionar com as imagens do Maracanã pulando em uníssono gritando os sucessos da cantora baiana. A possibilidade de eu atender ao chamado de Ivete e “sair do chão, batendo a palma da mão” é zero. Mas reconhecê-la como uma grande cantora e uma performer única é um tanto óbvio. A bem da verdade, Ivete está profissionalmente contida no DVD. Poderia ter deixado cair um pouco mais as centenas de figurinos usados na apresentação e quebrado o protocolo de mega-artista. Ainda assim, suas proporções de beleza equïna carregam o espetáculo as plagas mais distantes e menos planas do entretenimento popular. Ivete convence.
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A Cultura exibiu um documentário sobre a excursão da OSESP na Europa. Deixando de lado a necessidade de afirmação por platéias gringas dos feitos de Pindorama, foi impressionante a receptividade do público europeu às apresentações da orquestra paulista. John Neschling dosa bem em suas falas o elogio do trabalho do conjunto e sua própria responsabilidade pelo sucesso da OSESP. Os ótimos depoimentos de músicos que saíram de Europa Oriental para se juntar a orquestra e a felicidade de criança de Neschling ao sair do palco com o público de Viena aplaudindo de pé emocionam. Os últimos 10 anos da OSESP criaram um organismo vibrante. A maledicência da política dificilmente irá matá-la, espero.
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