São Paulo limpa

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A aprovação na câmara do projeto que proíbe a poluição visual de São Paulo é nota dissonante na maré de aborrecimento da vida política nacional. O abuso e a falta de critério com que o espaço urbano é apropriado por interesses particulares é um reflexo da maneira como essa cidade, e de resto a maioria das cidades brasileiras, foi construída. Planejamento urbano, plano diretor ou defesa do espaço público são letra morta frente ao interesse imediato dos especuladores e “incorporadores” responsáveis pelas edificações urbanas.
A cidade se tornou uma passagem entre dois espaços privados. O sujeito entra no carro e parte para o enfrentamento da selva urbana que separa sua casa do trabalho, da casa de um amigo ou seja lá o que for. A cidade é assim, uma desculpa entre dois pontos de interesse e a experiência entre eles é uma fatalidade da vida.
Certamente essa não é uma condição impune para a qualidade de vida dos cidadãos. É um ataque contra a cidadania e qualquer sentido de comunidade, de pertencimento ao um espaço comum. Imputo em parte a questão da violência a esse fato.
A proibição do outdoors não resolverá o problema da falta de espaços públicos em São Paulo, mas pode sim trazer um sentido de ordenamento das coisas. E talvez aí tenhamos uma janela de oportunidade para que a população se aproprie coletivamente da cidade.
Há um outro ponto há ser lembrado. O negócio de mídia exterior estará seriamente comprometido. Fala-se em 20 mil empregos. É preciso encontrar alternativas para esse pessoal. Um idéia é dividir a cidade em uma dezena de áreas, licitar o novo mobiliário urbano, inclusive permitindo que bairros ou regiões tenham padronizações diferenciadas desses equipamentos dentro da nova legislação. Os vencedores dessas licitações absorveriam parte dessa mão de obra que tende ao desemprego.
Finalmente, condomínios que usam grandes laterais com propaganda para reduzir seus custos poderíam ter uma redução de IPTU durante um certo período.
Feitas as ressalvas, se esse projeto realmente for levado até o fim, a cidade de São Paulo pode começar a viver uma experiência de ordem rara nos últimos 30 ou quarenta anos.