Ryszard Kapuscinski morreu. Meio atrasado, fiquei sabendo da morte do meu companheiro de viagem. “Minhas viagens com Heródoto” narra suas primeiras visitas à Índia, China e África, sempre acompanhado do livro “História” de Heródoto. Não sem alguma pretensão, imaginava o livro de Kapuscinsky me seguindo como o de Heródoto seguia Kapuscinsky.
Kapuscinsky foi um escritor brilhante. Seus textos são simples e generosos. Entregam ao leitor uma experiência de vida como viajante sem firulas, sem exibicionismos. A perspectiva histórica de sua compreensão do mundo não lhe permitia vaidades. Foi um jornalista raro. Judeu e polonês, conhecia o preconceito. Fosse um escritor inglês ou francês, sua aproximação com povos e culturas seria certamente enviesada.
Viajar com Kapuscinsky e Heródoto me trouxe uma imagem de uma velha embalagem de azeite espanhol. Nela havia uma mulher sentada à sombra de uma oliveira com uma lata de óleo a seu lado. Na lata de óleo, podiamos ver a mesma figura: uma mulher sentada à sombra de uma oliveira com uma lata de óleo ao lado.
É uma cena finita como a vida. Em algum momento, não se pode mais ver o desenho da mulher na sombra da oliveira, nem a próxima lata de óleo. Mas, como nos livros de Riszard Kapuscinsky, entre a imagem e o observador, há um universo.