O nome é ruim. Os atores sairam de “Malhação”. O diretor é estreante. O roteiro, mais um, é tarantinesco. E o filme fala de protodelinquentes de classe média. Tudo conspirava contra “Odiquê” de Felipe Jofilly, que eu peguei por acaso no videoclube. Mas o filme é todo contrário. A começar pelos letreiros, sem os patrocinadores tradicionais do cinemão. É um filme verdadeiramente independente, com um ar de “vamos fazer um filme aí”. Vá lá, a trama é meio manjada, ainda assim, o roteiro consegue aprofundar a psicologia dos personagens, garotos da classe média carioca, dando consistência e, em algum nível, um debate sobre questões de fundo da juventude e da sociedade carioca. Deveria ser curricular nas escolas da Zona Sul. A gangue desajustada, a primeira vista uma turminha de simpáticos maconheiros de portão de prédio, vai aos poucos se tranformando em canalhas pequeno-burqueses ou pequenos-burqueses canalhas, como preferir. São “Os Cafajestes” dos anos 2000. Simples, direto e eficaz. Passou desapercebido pelos cinemas, por certo por não estar atrelado a nenhum esquemão de distribuição.
Em tempo: há uma boa onda na direção de atores no Brasil, apostando na coloquialidade e no realismo. É uma salvação do cinema nacional, de atores de mais e personagens de menos. Provavelmente as escolas de atores discutem esse tema, com trincheiras de parte a parte. O fato é que para o espectador leigo, leiguíssimo, personagens críveis são mais importantes. E a credibilidade é o ator pensando como o personagem, agindo como o personagem. É muito distante, e melhor, do grande ator interpretando um grande ator interpretando personagens. Os garotos de “Malhação” funcionam muito bem esgoelando gírias e palavrões como qualquer jovem de classe média. No limite, é o que eles são.