Madonna, Clayderman e Aznavour

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Abro o jornal e vejo um petardo de duas páginas convocando para o show de Madonna. Todos os chavões do convencimento raso, o desenho detalhando os portões de entrada no estádio, as facilidades para pagamento no cartão. Num estalo, a poderosa máquina de marketing da cantora enche os espaços de cultura de jornais, portais e blogues divulgando detalhes da vida e carreira da cantora que, aprendo, chega aos 50.

Madonna agrada em cheio as hordas de consumidores dos sub-produtos pululados nos escritórios das grandes corporações da música e, ao mesmo tempo, consegue rodar nas vitrolinhas “antenadas” dos não tão suscetíveis ao esquemão industrial embalado na música “pop”. É talvez seu grande feito. Musicalmente é pobre. As letras e statements constrangedores. A tal “atitude” irrelevante. Mas há um certo charme em mistificar tanto há tanto tempo. No limite, é só diversão. O gasto de um consumidor médio com Madonna deve ser o quê? Dois ou três CDs, um show e, quem sabe, uma camisetinha. Dá uns 100 dólares. É muito. Ou o que ela vale, no máximo. Como dizia o grande Adoniran, num videozinho que se pode ver nesse sítio, discoteque é coisa de moleque.

No cantinho, na outra página, vejo mais dois anúncios, bem pequenos. Richard Clayderman e Charles Aznavour. Eu aqui já dando sinal para dobrar o Cabo da Boa Esperança, por um momento, pensei em ligar e comprar os dois ingressos. Para ver como era, mimetizar entre seus públicos, ouvir as conversas, uma vantagem em relação ao show da Madonna, onde não se poderá ouvir nada. Felizmente, essa vontade não chegou ao pé da página. Clayderman é uma Madonna bem comportada. Seu hit supremo “Balada por Adelina”, uma espécie de trilha sonora para papel de parede. Tem uma legião de fãs. Devem sentar no estofado, admirar a padronagem barroca na parede embalados pela sensação de segurança materna das harmonias de velho Clay. Gasto médio, 70 dólares, fora o papel de parede.

Veja a abaixo, o grande Richard acompanhado de Toquinho, outro ícone da comportamento exemplar do bom neto (gasto médio, 50 pratas).

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Aznavour já é uma figura de respeito. Tem um olhar canastrão inconfundível e ao que parece vai se despedir dos palcos. Chega uma hora que é melhor parar. Nomes como Jacques Brel e George Brassens sempre foram mais, digamos, aceitos pela intelectualidade francesa. Mas Aznavour sobreviveu para contar a história e conserva, como Tony Bennet, a dignidade do cargo. Chavão por chavão, imprescindível.

Veja Aznavour cantando “Paris au mois d’août”.

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Continuando no post, uma sátira em espanhol, com Ric Clay. E a ótima versão de “My Way”, sob a alcunha de “Comme d’habitude”, com Aznavour.

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(Agosto de 2008)