Carnaval

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“Carnaval é só carnaval” escreveu certa vez o histriônico Diogo Mainardi na não menos histriônica revista Veja. A segunda maior festa popular do Brasil sempre teve vocação de categoria antropológica entre acadêmicos e até jornalistas. Teorias explicam a ancestralidade da manifestação, teses ilustram as alegorias da festividade na alma brasileira e por aí vai. Como fazem aliás alguns antropólogos e pseudo-pensadores da cultura nacional a respeito do “funk carioca”, atribuíndo algum tipo de representação, sei lá, mitológica, a algo que não chega a subproduto da cultura de massa ou trilha sonora de ponto de venda de drogas e de prostituição adolescente. Bom, “funk carioca” é uma pena, mas isso é uma outra história.


Voltando ao carnaval, o caderno Mais do fim de semana do Carnaval (28/02), traz um artigo do sociólogo Antonio Flavio Pierucci desmistificando, com argumentos mais sérios que os de Mainardi, essa tara antropológica que há em se provar que o carnaval é o expressão máxima da brasilidade ou que a brasilidade seja a expressão máxima do carnaval.

O fato é que, como lembra Pierucci, a antiguidade pretendida não é tão antiga assim. O caldeirão cultural que mistura catolicismo, samba, candomblé e ubanda ferveu mesmo no século XX. Como de resto são boa parte dos ingredientes culturais que formam o que consideramos ser a cultura brasileira. E portanto, o Brasil não nasceu como essa tal brasilidade e sim ela surgiu já no século passado.

Essa visão romântica do carnaval e do país que “que o idealiza como festival genesíaco, causador e integrador da grande “communitas” nacional pela fusão das alegrias individuais na alegria geral, pela inversão simbólica das hierarquias, pela superação das distâncias e opacidades na transparência e imediação do regozijo mútuo, pela transgressão geral das convenções” é o mesmo romantismo que nos condena a eterna visão do país do futuro, do povo benevolente e da elite ilustrada. Uma grande farsa, pois não.