Fischer vs. Spassky

Morreu Bobby Fischer. Falei dele aqui faz alguns dias. Ou melhor, disse que ia falar.

Na casa dos meus pais tinha um livro chamado “Fischer vs. Spassky”. Dois cavalos se encarando em primeiro plano, envoltos pelas bandeiras da União Soviética e dos Estados Unidos da América. Por alguma razão esse livro se tornou mítico para mim. Folhei mil vezes, mas nunca li.

Eu posso sentir as letras inglesas grafadas no áspero papel amarelado. O tempo é tátil no papel amarelado. “Fischer vs Spassky” era ilustrado com figuras das situações do jogo. A primeira vitória de Spassky. A revanche de Fischer. Os empates estafantes. A abertura com o peão do rei. O rei, nú, encolhido num canto pelo xeque-mate. O mestre desistindo, como fazem os mestres de xadrez.

Montei o desenho do último jogo entre Bobby Fischer e Boris Spassky numa tarde de sábado. Queria entender afinal o que estava acontecendo ali, porque aquilo é tão importante para merecer um livro. Um livro indecifrável, o do conhecimento hermético dos grandes enxadristas envolto nas bandeiras da Guerra Fria.

Sem saber, eu tinha escolhido meu lado. Joguei como Boris e ganhei.

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