Estamira parece com o Brasil. No meio do lixo, ela é livre.
Escalando a apocalíptica montanha de dejetos, Estamira e seus companheiros não são incomodados pela sociedade. Ninguém se interessa em tirá-los dali. Ninguém ameaça seu direito adquirido à merda.
A vida lhe foi dura. Estuprada, prostituída, traída e abandonada, entrou numa espiral esquizofrênica, a mesma dementia praecox que acomete o Brasil.
O documentário de Marcos Prado não é especialmente imperdível. Prado nos leva as profundezas da realidade crua, a última fronteira da exclusão. A essa altura do campeonato, talvez ainda do lado de dentro. Há que se ter estômago para acompanhar Estamira na sua labuta diária no lixão do Gramacho e mesmo em seu bem ajambrado barraco, onde, tomada por uma raiva insolente, despeja impropérios a seu neto, que lhe perguntara algo sobre Deus.