Mais do PCC

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Passadas semanas da série de atentados contra policiais e os previsíveis exageros na revanche contra os quadrilheiros, é impressionante perceber como a sociedade absorveu o fato e o fez corriqueiro. É um flagrante da falência ética completa do país. Não se trata de uma crise do estado, da incapacidade da polícia ou do celular que entrou no presídio. É que esse país virou a terra do tudo pode. Tolêrancia por essas plagas tem outro sentido.

Em primeiro lugar, a impressionante capacidade da sociedade como um todo simplesmente assimilar o acontecido e absorver qualquer indignação.

A morte, em duas ou três noites, de quase duas centenas de pessoas virou apenas mais uma notícia. Vira a página, que as bolhas do Ronaldo ou as boutades do Lula são mais importantes. Não houve um ato sequer em repúdio ao acontecido. Pelo contrário, televisões da noite deixavam apenas seus locutores descerem o cascalho nas autoridades e na polícia. Como se fosse um problema de despreparo da polícia. Não, amigos. É um problema de uma sociedade covarde. Que aparato repressor ou de inteligência seria suficiente para, havendo um levante em que políciais são mortos em emboscada, com tiros pelas costas ou de surpresa, evitar tamanho derramamento de sangue?

O fato é que a ética do traidor é o império da nossa lei. E o PCC é apenas a ponta vistosa dessa faca.

Aí entra essa malemolente tolerância brasileira. Toleramos tudo. O racismo velado, o trabalho infantil, a diferença da renda, o presidente conivente com a quadrilha, mortes a rodo pela cidade.

Tolerância no Brasil não é a aceitação das diferenças, o reconhecimento do outro ou a valorização da diversidade.

É apenas e tão somente a convivência hipócrita com o desvio.