Outro dia resolvi dormir cedo e liguei a televisão. Paulo César Peréio surge no programa da filha do Mick Jagger, me falha agora o nome da moça, Bianca talvez. Peréio é cada vez mais uma caricatura de si mesmo. Rosna, reclama, bufa, gesticula como se ele fosse o Peréio. Sonolento.
Acordo com um debate, mais um, sobre “Tropa de Elite”. Peréio narrou o texto de encerramento do filme. Diz ele, maniqueísta demais. A vida é cheia de nuances. Continua murmurando uma ou outra coisa sobre o roteiro e manda: “o pior do filme é a narrador, cinema não precisa de narração e olha que eu ganho a vida com isso”. Boa. Parte da polêmica sobre “Tropa” vem da condução narrativa a partir do ponto de vista do Capitão Nascimento.
O narrador é o mordomo do momento.
O Jack Bauer tupiniquim se apropriou ideológicamente do filme e virou a voz do dono. É dele a gritaria de blogs e seções de cartas dos jornalões. No caso de Tropa de Elite, o Capitão Nascimento é o mordomo.
Dois mordomos-narradores em voga nesse país de grandes personagens são Luciano Huck e Ferréz. Cada qual com sua culpa débil, narram a gentileza de suas idéias reacionárias. O conservadorismo no Brasil, esquerda e direita volver, é uma saúva. Chamem a polícia, chamem o ladrão. Peréio tem razão, é uma tristeza não ver as nuances da vida. Todos chapados de vaidade, encarcerados em certezas. Agora, Zero2, traz a 12 !
Em tempo: uma ressalva entre os tiros. Salva-se nesse folhetim, o grande mordomo que foi João Moreira Salles, em Santiago. Emprestou uma voz de irmão para, com rara humildade, revelar sua condição de patrão ex-machina.